“Não quisemos desenhar um parque mais ou menos bonito, mas sim um sistema”
— 12.11.2015
Com a proposta “Parque das Rotas”, a dupla Monica Ravazzolo (PARATELIER) e Pedro Campos Costa venceu o Concurso para o Parque Urbano de Arruda dos Vinhos, promovido pelo município respectivo com a assessoria da OASRS. O júri considerou que o projecto “estuda e comunica uma integração regional considerada excepcional”. Para os autores, tratou-se de organizar um espaço de confluência de rotas que há muito cruzam aquele território inspiradas pela história, pelo património e pela paisagem.
Quando o arquitecto Pedro Campos Costa e a arquitecta paisagista Monica Ravazzolo visitaram Arruda dos Vinhos pela primeira vez, viram a mesma coisa: um território “na tangente entre várias coisas, a influência de Lisboa, a influência do Tejo e este híbrido entre o rural e o urbano que nos interessa explorar”, explica o arquitecto.
Monica Ravazzolo concorda. “Acreditámos que o Parque Urbano pudesse funcionar como estrutura de ligação entre a 'urbe' e o 'campo'”, nessa zona muito marcada pela linha de água, o Rio Grande da Pipa, de caudal variável e que foi até ao princípio do século XX a grande via infraestrutural que alimentava a capital. “A água ali é o tema. Com o tempo as pessoas foram-se afastando do rio onde nos anos 60 tomavam banho”, lembra Campos Costa.
Depois, a topografia. A zona de intervenção caracteriza-se por sucessivas intervenções, patamares distintos derivados de aterros e escavações que se sucederam no tempo. Em suma “uma área muito acidentada, muito antropizada” mas que escolheram respeitar. “Propusemos uma topografia baseada no existente em que reconhecêssemos a existência de 3 cotas que permitissem diferentes aproximações à paisagem produtiva dos vinhedos e ao rio: uma relação mais próxima, uma distante e uma longínqua”, adianta Monica Ravazzolo.
Arruda dos Vinhos, integrada numa zona de reserva agrícola nacional, mantém ainda hoje uma forte ligação com o cultivo da vinha que, lembra a arquitecta paisagista, “faz parte da sua identidade e do seu povo que continua a subsistir da produção do vinho e de pequenos comércios locais”. E historicamente falando, Arruda faz parte das Linhas de Torres, tendo tido um papel fulcral aquando das invasões francesas.
Ou seja, sintetiza Pedro Campos Costa, “as rotas são definidoras em Arruda dos Vinhos”. E por isso, completa Monica Ravazzolo “a ideia de construir percursos com múltiplas utilizações, como o circuito enoturístico que a partir do parque ligasse cidades e cooperativas agrícolas importantes na região; o percurso histórico das Linhas de Torres com centro expositivo proposto para a azenha ali existente; e por último, o percurso de observação da natureza que ao longo do rio re-percorre a antiga via comercial' para o transportes fluvial das pipas”. Este último, de perfil mais contemporâneo, liga-se a ciclovias e outros circuitos desportivos e de lazer já existentes noutros concelhos.
Daí a intenção: “Não quisemos desenhar um parque mais ou menos bonito, mas sim um sistema”. E um sistema aberto como salientou o júri do concurso: a proposta “cria condições para um potencial desenvolvimento de novas valências, afirmando condições de sustentabilidade na gestão do espaço e demonstrando realismo de estrutura e custos de construção”.
Para os arquitectos autores, o novo parque urbano, “para além de estar ligado à pequena escala da vila e aos seus programas de interesse histórico-cultural, amplia-se a uma escala regional conectando Arruda a outras regiões numa partilha comum de histórias e sabores”.